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Marighella: o guerrilheiro que continua a incendiar o mundo

"Há uma providência especial na queda de um pardal..."

Charles Lindberg

No Oscar deste ano, vimos Judas and the Black Messiah (Shaka King, 2021) despontar timidamente entre os figurões. E por que não haveria de ser? Apesar de seus méritos (as duas performances principais), foi um filme tímido. Só podemos imaginar o tipo de amarras com as quais se pode trabalhar em Hollywood com uma figura revolucionária como Fred Hampton. Marighella (Wagner Moura, 2019) não é diferente. Embora não seja hollywoodiano, é produzido pela Globo, o que é quase a mesma coisa.

Dentro dessas amarras, porém, o filme cumpre muito bem sua proposta. Não pega leve ao retratar os aspectos mais controversos da figura histórica que representa, e exibe uma sólida estreia diretorial para Wagner Moura.

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Marighella (2019). Foto: Divulgação.

Seu Jorge está impecável (como sempre) no papel do titular ativista político tornado deputado guerrilheiro; mas o filme está repleto de performances marcantes, especialmente de Humberto Carrão e Bruno Gagliasso.

O artifício narrativo é bastante simples, mas eficiente, pois quando o núcleo emocional bate, ele bate forte. Moura demonstra clara influência de José Padilha, cujo Tropa de Elite se tornou um sucesso estrondoso. Marighella é semelhante em ritmo, intensidade e violência.

Até porque violência foi uma das marcas principais do nosso período de ditadura militar, entre 1964 e 1985. O filme tem cenas bem gráficas, no esforço de demonstrar a crueldade vil do regime e do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e justificar as ações radicais (algumas chocantes) de Carlos Marighella e seus revolucionários.

A propósito, essa é, talvez, uma de suas maiores falhas: há um tempo limitado de tela para cobrir fielmente toda a diversidade de elementos que compõem o pano de fundo do recorte que o roteiro apresenta. E, provavelmente, seria impossível entrar em todos os detalhes,

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Seu Jorge e o diretor Wagner Moura no set de 'Marighella' (2019). Foto: Divulgação

exceto caso o filme fosse uma série. Assim, por vezes, passa uma impressão demasiado maniqueísta dos eventos – embora, ao se tratar da ditadura, seja difícil adicionar nuance, especialmente quando o foco está no inimigo do Estado.

Em linhas gerais, um grande filme, com direção, edição, cinematografia e música excelentes, que felizmente se eleva à altura de seu objeto, embora deixe a desejar nalguns outros campos. Um presente para manter viva a memória do guerrilheiro que incendiou o mundo.

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Marighella (2019). Foto: Divulgação

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