A evolução histórica da juventude
no Cinema
A ideia central deste texto opinativo surgiu de uma discussão no WhatsApp sobre a possível decadência dos filmes adolescentes. Não demorou muito para que a discussão descambasse para uma pergunta fundamental: de que forma a juventude está sendo representada dentro das produções cinematográficas?
Fidel Barbosa
A COMPLEXA MENTE DO JOVEM
O momento da adolescência é um prato cheio para grandes histórias, pois é um momento único e delicado na vida de todas as pessoas, ainda mais no mundo ocidental em que desde que nascemos estamos sendo bombardeados diariamente com falsas promessas e profundas hipocrisias. Mas então, porque a juventude é tão impactante na vida do ser humano? A psicologia pode falar uma coisa, sociologia uma outra coisa, mas vou pegar minha experiência.
Na minha juventude eu tinha uma pressão enorme vinda de todas as direções possíveis, sendo que nessa fase você não tem mais o direito ao apoio de quando você é criança, somado a isso suas opiniões agora valem ainda menos, sem falar da quantidade massiva de pessoas dizendo o que você deve fazer da vida.
Estou contando esse breve relato para introduzir o filme que eu considero a melhor representação da juventude: A Primeira Noite de Um Homem (1967), um longa que ganhei a cópia pirata da mulher que trabalhava na xerox da minha primeira faculdade, quando eu tinha os meus 18 anos.
Absurdo o tanto que me identifiquei com o protagonista, toda aquela insegurança da primeira vez, somado ao fato de como você tão jovem precisa decidir seu futuro em uma sociedade viciada em suas próprias hipocrisias.

A Primeira Noite de Um Homem (1967)
O diretor Mike Nichols ganhou o Oscar de Direção por esse filme, por usar uma câmera extremamente inteligente ao construir dentro da mise en scène uma narrativa visual, algo que vem de uma escola europeia de direção mais experimental. Uma direção europeia para uma história inteiramente americana.
Importante ressaltar: A Primeira Noite de Um Homem virou um divisor de águas para a forma de entender a juventude, se antes o senso estético deixava a discussão rasa para um aspecto de rebeldia vazio, agora as indagações da juventude são mais bem estruturadas e consideradas, um verdadeiro marco da década de 60.
DELIMITANDO NOSSO RECORTE
Inclusive, o filme adolescente abre muitos caminhos narrativos, até porque a base do filme é um momento da vida de alguém, sendo abrangente nesse sentido. Os dois principais estilos de filmes adolescentes são os de contestação e as comédias românticas que se for para listá-los vai dar uma página só para eles.
Posterior a essas duas categorias, ainda temos algumas subcategorias, como: o cinema surrealista - exemplo: Donnie Darko (2001) e Veludo Azul (1986), ficção científica - exemplo: De Volta Para o Futuro (1985) e Jogador Nº1 (2018), fantasia - exemplo: Ponte Para Terabítia (2007) e a saga Harry Potter, terror - exemplo: Hora do Pesadelo (1986) e Corrente do Mal (2014) - e até mesmo filmes adolescentes escatológicos - exemplo: Trainspotting (1996) e a série de filmes American Pie.
Dito isso, é importante que você leitor fique ciente que irei me concentrar em manter o foco apenas em um cinema contestador e logicamente nas comédias românticas que quando bem-feitas geram clássicos eternizados.
O COMEÇO
Para ir fundo nesse debate precisamos voltar para a década de 1950, onde a juventude norte americana estava construindo uma subcultura estilizada do pós-guerra. Com camisas simples, jaquetas de couro e calças jeans, os “Greasers” se popularizaram como ícone pop de rebeldia, ultrapassando as barreiras de seu tempo e marcando época.

Toda essa ebulição cultural é prato cheio para que a arte volte seus olhos para a subcultura "Greaser", produzindo assim, não apenas produtos de seu meio, mas uma marca eternizada para a posteridade.
O Selvagem (1953)
Logo, os primeiros filmes sobre juventude surgem na década de 50, com Marlon Brando em O Selvagem (1953) e posteriormente com James Dean em Juventude Transviada (1955).

Juventude Transviada (1955)
A decadência dessa subcultura veio em meados da década de 60, onde os jovens estavam agora embarcando para lutar no Vietnã e seus principais símbolos estavam em sua maioria morrendo muito jovens, como é o caso de James Dean que faleceu com 24 anos.
Contudo, essa identidade teve seus momentos de revisitação, como no filme Grease (1978). Mais recentemente, dentro da música indie, bandas como Arctic Monkeys e The Neighbourhood ressignificaram o estilo de outrora.


Arctic Monkeys
The Neighbourhood
A VIOLENTA DÉCADA DE 1970
Nesse clima de rebeldia, nós viramos nossas atenções para o cinema da década de 70.
Um pouco de contexto histórico e talvez um olhar subjetivo do que ocorreu na conturbada década de 70 nos fará entender o que foi a chamada "Nova Hollywood". De antemão, é obrigatório citar o filme Bonnie e Clyde (1967), que foi um pilar para esse movimento cinematográfico se insurgir na década seguinte. Sua combinação de violência gráfica e humor, bem como seu tema de juventude glamorosa e insatisfeita, fez sucesso com o público.
Aqui a gente já abre a "Caixa de Pandora" e cita alguns grandes cineastas, tais quais Martin Scorsese, Brian De Palma e Francis Ford Coppola, que foram pilares salvadores do cinema.

Taxi Driver (1976)
Agora voltando à realidade estadunidense, é preciso também entender que a década de 70 foi um período extremamente violento para as minorias e os pobres. Sem falar que o cinismo dessa época já era palatável, pois a contestação e o sentimento de abandono de um EUA pós-fracasso no Vietnã é latente em todos os sentidos.
A política corrupta e neoliberal de Nixon aliado a um FBI repressor de direitos civis de J. Edgar Hoover, escancara agora uma ferida aberta no seio americano que ainda não se fechou após a morte de diversos líderes negros na década de 60, como Malcolm X, Marthin Luther King e Fred Hampton. Logo, grandes cidades americanas ficam sujeitas a marginalidade urbana, a juventude está consciente e precisa se agrupar em bandos para que sobrevivam a essa selva capitalista.

Laranja Mecânica (1971)
Os cineastas agora estão com a faca e o queijo na mão, pois podem seguir o movimento da "Nova Hollywood" e aplicar toda essa efervescência cultural como inspiração, tendo espaços para criar grandes clássicos, como:
Laranja Mecânica (1971), Caminhos Perigosos (1973), Taxi Driver (1976), Os Embalos de Sábado a Noite (1977) e The Warrios (1979), todos eles puxados para essa temática de violência urbana e a formação de gangues jovens.
Outras características desse cinema é que as histórias se passam em grandes polos urbanos. Até porque esses grandes centros urbanos concentravam todos os tipos de pessoas, logo, as gangues também vinham como essa ideia de proteção.

The Warrios (1979)
Por um outro lado toda essa violência urbana revela até um medo oculto dos adultos com essa nova juventude marginal.
Não à toa na mesma época surgiu o clássico Desejo de Matar (1974) estrelado por Charles Bronson, que tinha como ideia central um revanchismo dos adultos com toda essa juventude marginal.
A CONSERVADORA DÉCADA DE 1980
“Estradas? Para onde vamos não precisamos de estradas. ”
Os anos 80 foi quando inventaram a máquina do tempo. Por causa do DeLorean? No, no, nem Exterminador do Futuro: essa década tem um charme especial, pois quando a gente ouve as músicas e vê os filmes daquela época, nós somos catapultados diretamente para esse período em que as coisas são mais simples e as pessoas não envelhecem.
A juventude estava interessada em se distrair da realidade com filmes de aventura que se eternizaram como clássicos, contudo, é importante também relembrar que o protagonismo dos anos 80 teve um domínio de atores/atrizes brancos. Sem falar do perigo também de todo esse conto de fadas criados por Spielberg e sua turma, maquiando o fascismo capital daquela época neoliberal, algo que Paul Verhoeven captura muito bem em Robocop – O Policial Do Futuro (1987).

Robocop – O Policial Do Futuro (1987)
Robocop é um clássico irretocável da década de 80. Com sua característica crítica política, Paul Verhoeven constrói uma ambientação que perpassa por um complexo sistema de tons extremamente fascistas e opressores que escancaram a violência em toda a cadeia de estrutura, se tornando um filme mundialmente conhecido.
Na realidade americana o que acontecia é o seguinte, vou dar o panorama para você, caro leitor: se a década de 70 possuía uma violência pulverizada vem a década de 80 e essa violência agora se segrega em maioria nos guetos negros, principalmente devido a epidemia de crack que o governo americano ajudou a disseminar, tema muito bem tratado nos filmes Os Donos da Rua (1991) e Straight Outta Compton (2015).
Além da epidemia de crack, a educação dos jovens negros ficou relegada às escolas públicas sucateadas da periferia, enquanto a classe média branca gozava de estruturas do primeiro mundo. Vale ressaltar também que apenas no final da década de 70 que se extinguiu a segregação nas escolas públicas americanas.
Na política, o governo de Ronald Reagan reinou absoluto de 1981 até 1989. Marcado por uma política neoliberal, Reagan foi o rosto do conservadorismo e capitalismo da sociedade americana. Não à toa, analisando toda essa problemática da década de 1980, John Carpenter dirige a ficção cientifica Eles Vivem (1988), que tem como proposta criticar a ideologia neoliberal.

Eles Vivem (1988)
É nesse cenário sócio-político que surge o cineasta John Hughes, que retoma características importantíssimas dos filmes adolescentes: divergência com os pais, um crush e um bully.
Focando claramente na realidade branca classe média conservadora (que é a realidade dele), John Hughes constrói 3 filmes definitivos sobre a adolescência: Gatinhas e Gatões (1984), Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986).
Quando vi os filmes dele eu tinha no máximo uns 16 anos de idade, na época eles se transformaram em meus favoritos, até porque se baseiam também em uma inocência que permeava os anos 80. Se você assistir com um olhar minimamente crítico, os filmes perdem muito, não apenas pela sua narrativa simples, como pela relativização de comportamentos completamente execráveis na mentalidade atual.

Clube dos Cinco (1985)
Muitas críticas podem ser feitas a John Hughes, mas uma coisa é inegável: ele influenciou todos os outros filmes jovens que vieram posteriormente. A principal força de seus longas é que eles possuem um coração. Como assim um coração? Sim, um belo coração oitentista. O espectador vê verdade em seus personagens e suas histórias.
A década de 90 foi uma década bem complicada de se analisar. Em níveis culturais, o que aconteceu de principal foi um avanço tecnológico que até então não existia, com isso o trabalho em cubículos apertados na frente do computador já se torna uma realidade, não por acaso em 1999 (que muitos consideram o melhor ano da história do cinema), final da década, tem filmes como Beleza Americana, Como Enlouquecer Seu Chefe, Matrix e Clube da Luta, todos construindo a ideia de rebelião a aquela estrutura escravista capitalista.

Clube da Luta (1999)
Na música o que fez muito sucesso entre os jovens foi o gênero grunge que surgiu nessa década e nela morreu, o rap também, até porque o grupo N.W.A agora estava todo dividido e grandes nomes como Tupac e B.I.G. surgem nesse cenário.
Contudo, não podemos esquecer que o gênero pop adolescente também explodiu na metade dessa década: Britney Spears, Backstreet Boys e Spice Girls são grandes exemplos desse período.
Então, não sei se foi o pop adolescente, a herança de John Hughes ou o surto coletivo que foi a série Friends, mas a verdade é que o cinema adolescente daquela época foi algo bem bobo e focado em comédias românticas. O que é ótimo também, porque criou clássicos como: Jovens, Loucos e Rebeldes (1993), As Patricinhas de Beverly Hills (1995), Rushmore (1988), 10 Coisas que Odeio em Você (1999), Segundas Intenções (1999), Ela é Demais (1999) e American Pie (1999).

Jovens, loucos e rebeldes (1993)
Com a juventude focando de vez dentro das suas próprias relações, deixando de lado temas como o impacto da figura paterna e as causas políticas para se lutar, os problemas da humanidade tomaram uma escala global e o cinema refletia esse medo também, só ver o surgimento de filmes como Os 12 Macacos (1995), Independence Day (1996), Impacto Profundo (1998) e Armagedom (1998). Ou seja, a juventude não está tão interessada em protestar contra o aquecimento global e as previsões apocalípticas, isso é coisa para malucos e/ou políticos.
Vou dar aqui a fórmula para que se crie um possível clássico adolescente dessa época e que sirva de aprendizado para Netflix: primeiro de tudo, você precisa que alguém faça uma aposta com o protagonista, para conquistar o coração de uma garota que não é a popular do colégio. Segundo, é obrigatório um jovem outsider, aquele cara carismático e que vive por suas próprias regras.
E por fim, uma figura adulta que sirva de um contraponto para aquela juventude que está se desenvolvendo.
O FANTASIOSO ANOS 2000
“Nas quartas usamos rosa”
Os anos 2000 continuou no fluxo da leveza dos anos 90, contudo, trouxe tramas voltadas a protagonistas femininas, algo que não se tinha até então, exemplos claros são os filmes Legalmente Loira (2001), Meninas Malvadas (2004), De Repente 30 (2004), Juno (2007) e Garota Infernal (2009).

O tema dessa nova e futura fase dos filmes adolescentes são a representatividade e diversidade, trazendo aos holofotes a relevância e os anseios das mulheres que até então eram relegadas ou mal elaboradas.
Um passo importante, para que na década seguinte (Década de 2010) viessem outros protagonismos que também não eram levados em conta, tais quais os LGBTQIA+.
Meninas Malvadas (2004)
Foi também uma década muito boa para a fantasia jovem, não apenas pelo estouro da trilogia Senhor do Anéis que foi no começo dessa década, como também o início de duas sagas que marcaram para sempre as vidas da geração Y e Z – Harry Potter e Crepúsculo.

Amanhecer (2011)
O impacto cultural dessas duas sagas é inegável e impossível de replicar, não à toa tentaram emplacar várias outras sagas adolescentes, mas nunca conseguiram chegar aos pés do que foi esse "surto coletivo" dos anos 2000.
Cabe ainda ressaltar que o gênero da fantasia foi tão presente nessa década que ainda teve espaço para os clássicos O Labirinto do Fauno (2006), Ponte para Terabítia (2007) e As Crônicas de Spiderwick (2008). Todas tramas em que a realidade adolescente se torna um lugar tão pesado que a fantasia serve como uma válvula de escape.
Este gênero inclusive é um espaço muito interessante para que a metáfora da juventude se aflore, um exemplo bacana vem ainda na década de 80 com Labirinto - A Magia do Tempo (1986) – só citei por que amo esse filme e tem o David Bowie.
Foi tanto filme de fantasia adolescente nessa época que de cabeça a gente ainda lembra de alguns filmes mais infantis como Pequenos Espiões (2001) e As Aventuras de SharkBoy e LavaGirl (2005), mas sem dúvida o filme mais impactante nessa seara saiu apenas ao final da década, a animação Coraline (2009).
A REPRESENTATIVIDADE DA DÉCADA DE 2010
A juventude nos anos 2010 amplia a diversidade de gênero que vinha sendo construída no início dos anos 2000, trazendo aos holofotes filmes com protagonistas mais plurais e temas bem mais interessantes nesse sentido.
A camada sexual não é mais uma questão subjetiva das relações adolescentes. Os personagens LGBTQIA+ estão agora em destaque, trazendo consigo um debate relevante tanto pelo preconceito que sofrem como pelass suas personalidades únicas.
Nessa seara cabe citar os seguintes filmes: As Vantagens de Ser Invisível (2012), Hoje eu Quero Voltar Sozinho (2014), Moonlight: Sob A Luz Do Luar (2016) e Me Chame Pelo Seu Nome (2017).
As Vantagens de Ser Invisível (2014)

Ao trazer complexos personagens homossexuais, esses trabalhos acabam em contrapartida questionando a figura do homem na sociedade. A coragem desses personagens em tela de diariamente mostrarem sua luz e sua liberdade corporal não deve em nada a falsa ideia de contestação dos homens padrões de outra época.
O que, por sua vez, abre espaço para filmes muito mais críticos que os do passado, pois o principal papel da juventude é derrubar o "status quo", como diria Bob Dylan em sua música The Times They Are A-Changin':
Dito isso, é importante a gente buscar mais caminhos dentro da linguagem jovem. Explorar mesmo essa sexualidade reprimida que o mainstream tem medo de mostrar. Por exemplo, por mais críticas que eu tenha a qualidade estética dos filmes da Viih tube, inegável que ela sempre flerta com o bissexualismo em seus filmes que são em sua maioria muito disseminados pelo público jovem. Muito corajoso da parte dela, pois foge de um padrão de aceitação social do homem branco gay, para ampliar seu escopo em uma personagem com liberdade de seu corpo, algo que pode ser mais bem explorado em futuras produções mainstream.
Pode parecer evidente que estamos em pleno século 21 e a sexualidade alheia deve ter seu respeito e ser mostrada com naturalidade, mas as coisas não são bem assim, por exemplo, em um filme gigante do universo de Harry Potter, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018), foi revelado que um dos personagens da trama era gay e teve um caso. Como pode isso ser revelado e não mostrar uma cena nem deles se tocando, muito menos se beijando? Algo que se fosse um casal hétero normativo seria sem dúvidas mostrado tranquilamente, como é durante todo o filme.
Contudo, é obrigatório que a qualidade narrativa e de linguagem estejam alinhadas ao discurso, se não fica algo vazio ou descaracterizado.
“Venham, mães e pais
De todos os lugares
E não critiquem o que vocês não conseguem entender
Seus filhos e suas filhas
Estão além do seu comando
Sua antiga tradição está rapidamente envelhecendo
Por favor, saiam da nova se não puderem ajudar
Porque os tempos, eles estão mudando”
AGORA FALANDO MAL DA NETFLIX
Um péssimo exemplo do que fazer são as péssimas escolhas da Netflix em suas produções originais. E então vemos que o problema não está no assunto a ser debatido, mas a mídia que vai inclusa nele. Isso significa que a Netflix com seu formato direto para televisão produzindo materiais em nível industrial manchou a imagem dos filmes adolescentes que colecionam clássicos dentro da sétima arte (DAS TELAS DO CINEMA).
Tudo começou com 13 Reasons Why. Na época, foi um debate enorme em cima da forma violenta que os assuntos eram abordados por essa série, dito isso, olhando em retrospecto, a Netflix abriu uma "Caixa de Pandora" dentro das suas produções voltadas ao público jovem, entregando um texto raso para abordar questões profundas, tentando mirar nessa ideia de uma interpretação literal de um problema muitas vezes subjetivo e que precisa ser tratado com cautela.
A forma de produção industrial também não ajuda na qualidade de seus originais, até que a gente chega no ponto chave do problema: "a saga" Barraca do Beijo que já tem seus 3 filmes, Sierra Burgess é uma Loser, O Date Perfeito e Crush à Altura. Filmes com notas ridículas no IMBD, que demonstram uma perigosa decadência dos filmes sobre a juventude ocidental que tanto amamos, pois, uma queda de qualidade tão brusca desse nível pode gerar o fim dos bons filmes do gênero, nos relegando a cada vez mais tramas genéricas.
E como a Netflix tem conseguido essa façanha? Simples, ela não tem respeitado os três pilares dos filmes da década de 90 que eu citei anteriormente. Logo, a trama de seus filmes se torna sem conflito, sem desafio, sem graça, sem conteúdo e sem sentido. Sem nada que sustente em pé os conflitos adolescentes.
Por outro lado, nas séries a Netflix tem acertado em cheio em produções como Sex Education, Cobra Kai e Big Mouth, sem dúvidas essas séries conseguem fidelizar a nossa realidade como sociedade e juventude, entregando, além de tramas cativantes, espaço para o debate da sexualidade, o conflito de gerações e as dificuldades que os tempos líquidos descritos por Zygmunt Bauman têm nos causado.
CONCLUSÃO
Eu achava que a forma que a juventude estava sendo representada nos cinemas estava piorando, me enganei completamente! Descobri, na verdade, uma evolução muito positiva, mesmo que lenta, dentro da cinematografia jovem: em representatividade, em mensagem e em arte.
Inclusive, a década de 2010 reviveu muito da minha esperança, com filmes extremamente sensíveis e que abordam essas outras formas de amar e respeitar o próximo, deixando a gente curioso para o que surgirá na próxima década do mainstream, uma vez que a tendência demonstrada durante as décadas é de se buscar mais e mais ampliar o escopo de histórias fora do padrão.
Antes de falar mal dos filmes da Netflix mais uma vez, quero só pontuar também que em uma análise mais profunda dessas décadas, percebemos que o sistema capitalista afeta nossa vida de formas extremamente subjetivas, principalmente na cultura e no convívio que cria anomias sociais. Cada década teve sua chaga e nela os debates também foram mudando para criticar a estrutura vigente, os jovens são os fatores de transformação, eles se tornam o epicentro do debate.
O que inclusive abre a curiosidade de como serão os próximos filmes voltados para esse público, até porque o cinema vem sofrendo uma safra interesse de filmes cada vez mais críticos a esse modelo de vida, exemplo: Capitão Fantástico (2016), Parasita (2019) e Coringa (2019). Dito isso, quero mandar recado para a Netflix: para de tentar fazer filme adolescente, invista nas séries, está rendendo muito! Filme vocês não sabem, simples assim.