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CURTA UM CURTA

Eu’s Sozinhos, Nós Capitais

Uma resenha crítica do filme cearense Capitais (2018)

Eli Naftali

Apartamento é sinônimo de “separação, afastamento, despedida”. O curta Capitais, roteirizado e dirigido por Arthur Gadelha e Kamila Medeiros, retrata todos esses signos exatamente dentro da estrutura de aço coberto por concreto que conhecemos por “apartamento”. Uma paisagem banal do cotidiano que abriga histórias de “pessoas cinzas normais” da capital cearense.

O curta foi pensado e desenvolvido nas dependências da Escola Porto Iracema das Artes, instituição do Governo do Estado do Ceará que fomenta a formação e a criação artísticas. A estreia se deu na Mostra Competitiva Brasileira de Curtas-Metragens de um dos mais prestigiados festivais de cinema do Brasil e da América Latina, o Festival Cine Ceará, em tempos não epidêmicos do ano 2018. 

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Imagem: IMDB

Ainda assim, o filme, hoje, em meio à pandemia, parece conversar com o contexto social, humano e racional quando a história cruzada de três mulheres, Flora, sua filha Laura (Kamila Medeiros) e sua vizinha Alice (Bárbara Sena) se embaraçam nos minutos que regem o curta. Um encontro quase que indesejado que revela os epitáfios do ser humano e a dificuldade de seguir em frente quando nos damos conta do vazio que traz a partida, do tamanho que é a solidão. Um sentir tão presente numa realidade com mais de meio milhão de pessoas mortas pelo invisível. 

Arthur e Kamila conduzem cena após cena tanto em quadros fechados quanto abertos. O oceanário trata de levar a claustrofobia à cena, quase que mostrando o sufoco e a agonia escondida nos redutos urbanos. A câmera fixa (um fator essencial) ajuda a manter o clima de alento e dureza. Dureza essa que encontramos também em alguns personagens, personificações do eu humano egoísta. 

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Imagem: Té Pinheiro e Jamille Santos.

O projeto, além de ter rodado por vários festivais, angariou no ano passado o prêmio de Melhor Filme no prêmio no 2º Festival Universitário do Cinema de Brasília (FestUni). A premiação fez parte do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Capitais apresenta mais do que boas ideias com execuções práticas, revela talentos promissores da terrinha e um fazer cinema atemporal com significados e signos que instigam qualquer um que esteja aberto para ler o contexto (em que se está inserido) por meio das artes. 

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