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Lançado em 2014 e dirigido por Christopher Nolan

A vida é cheia de cores

This Is Us e a pintura da nossa trajetória repleta de relações

Jéssyka Andrade

This Is Us é uma série de televisão que teve sua estreia em 2016, tendo como autores Dan Fogelman, Kay Oyegun, Jas Waters, Vera Herbert, Aurin Squire e Donald Todd. Com cinco temporadas até o momento, aborda a história da família Pearson, com enfoque em diversas óticas de cada um dos protagonistas, contemplando os laços das relações interpessoais em um roteiro que liga passado, presente e futuro, gerando assim reflexões sobre as nossas linhas entrelaçadas de tempo, família e amor. 

Logo no primeiro episódio, a série nos mostra cenas de pessoas que fazem aniversário no mesmo dia, e o quanto suas histórias envolvem entrelaçamentos e singularidades. Neste episódio piloto, também vemos as expectativas de Jack e Rebecca Pearson para o nascimento de seus filhos, assim, já podemos observar que This Is Us retrata vivências de nascimento, mas também de morte e luto. Quando Dr. K. precisa informar à Jack que um dos trigêmeos morrera no parto, destaca-se a seguinte fala: 

— Dr. Nathan Katowski

Eu gosto de imaginar que talvez um dia você seja um velho como  eu e, conversando com um jovem, você explique como pegou o limão mais amargo que a vida ofereceu e transformou em algo parecido com uma limonada

Desde então, é possível experienciar a emoção da qual a série nos convoca, e é só o início. Em seguida, também nos é mostrado o exato momento em que o casal branco decide adotar Randall, um recém-nascido negro. Portanto, a série começa a englobar questões não somente de relacionamento amoroso, maternidade e paternidade, mas também da diversidade de arranjos de família. São abordadas relações de gênero, raça, classe, sexualidade, bem como temáticas que envolvem adoção, infâncias, crescimento, luto, sofrimento psíquico, vícios, relação alimentar, gordofobia e inúmeros outros aspectos relevantes.

Contemplando sensibilidade no amarrar das cenas, This Is Us é sobre a vida, as relações humanas, o nascer, o morrer, o amar. É sobre a singularidade das vivências de cada um, e como nossas histórias fazem laços com as de outras pessoas. Isso é bastante retratado na fala de Kevin Pearson, filho de Jack e Rebecca, quando tenta explicar sobre sua nova peça, e, consequentemente, sobre a vida para as suas

sobrinhas Tess e Annie:

Então, pintei isso, pois acho que a peça é sobre a vida, sabe? E a vida é cheia de cores, e cada um vem e adiciona sua própria cor à pintura. E mesmo que não seja muito grande, a pintura, vocês veem  que continua para sempre, em todas as direções. Tipo o infinito.  Porque a vida é meio assim, certo? É muito louco se pensar que, há 100 anos, um cara que nunca conheci veio para esse país com uma maleta. Ele teve um filho, que teve um filho, que me teve. E enquanto eu pintava, pensei que talvez aqui de cima seja a parte dele e aqui embaixo, a minha parte da pintura. E então comecei a pensar: e se todos estivermos na pintura toda? E se estávamos na pintura antes de nascer? E se estivermos nela depois de morrer? E, se as cores que continuamos adicionando ficarem uma em cima da outra, até que um dia não seremos mais cores diferentes? Seremos... uma  coisa só. Uma pintura (...).

— Kevin Pearson

Diante dessa citação e da trama da série como um todo, envolvendo idas e vindas no tempo, é notório o quanto pessoas e momentos vão deixando algumas marcas e influências em nossas vidas e, algumas das vezes, nem percebemos o quanto fomos tocados emocionalmente. A nossa infância, o nosso passado, o passado de nossos familiares, a nossa cultura, tudo isso está em relação. E esses fatores podem refletir em muitas das nossas questões atuais e futuras, bem como no modo como nos sentimos acerca de nós mesmos e do mundo. Por isso, é preciso olhar com calma e cuidado para cada ferida e potencialidade. 

Inclusive, um dos episódios da segunda temporada se passa em uma sessão de terapia familiar, em que cada um tem espaço para falar sobre seus sentimentos e relações uns com os outros. Ao final, Randall Pearson nos convoca para uma metáfora sobre lentes de óculos e a maneira como cada um de nós temos

perspectivas e óticas singulares sobre os acontecimentos que nos rodeiam, bem como as formas pelas quais eles nos atravessam. De novo, é sobre singularidades e relações, caminhos que se aproximam ou se distanciam no decorrer da história de vida. 

Em relação à trilha sonora, a série inclui músicas que evocam fortes sensações nos telespectadores, encaixando de um modo muito singelo nas cenas e na trama. Além disso, os personagens são retratados ampla e profundamente, onde podemos nos conectar emocionalmente com suas imperfeições, vulnerabilidades, força, qualidades e potências. Eles e nós, cheios de cores, algumas semelhantes, outras tão diferentes. 

É evidente que This Is Us não aborda uma história perfeita ou pessoas sem erros e defeitos. Ela também não é uma série perfeita. Mas evoca emoções, conexão e reflexão. Como a vida. 

Como nos sentimos em relação à nossa infância, à nossa história, às nossas relações familiares e tantas outras? Como percebemos a nossa trajetória e os fatos que fazem parte de quem somos hoje? E como, reconhecendo esses fenômenos, também nos implicamos com autonomia na nossa própria jornada? 

O que e quem está presente na pintura de nossas vidas? E de que forma desejamos dar continuidade a

essa pintura? 

É verdade que cada pessoa tem a sua própria história, mas essa história se entrelaça com muitas outras. Elas merecem ser contadas, registradas. Precisamos aprender com elas e ampliar o olhar. Essa é a história da família Pearson. Qual é a sua?

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