
Carta ao Leitor
Cada vez mais precisamos nos reinventar, caro leitor. Com o surgimento da pandemia de Covid-19, o cinema se viu em um dos seus momentos mais complexos e dramáticos. Foi preciso se adaptar ao novo formato de mundo que se desenhava. Os streamings, que já estavam em uma crescente, se tornaram fator crucial para que o audiovisual sobrevivesse e, agora, finalmente, volte a dar seus passos rumo às telonas novamente.
Esses momentos de ruptura, ou de quase-ruptura, geram diversos sentimentos. A angústia de todo o setor deu lugar agora a uma esperança que nasce em meio ao caos. Mas em um país que vive a escalada do ódio desenfreado como o nosso, uma das áreas que mais sente o direcionamento dos olhares que desejam calar é a Cultura. E assim como nossas florestas, nossa Amazônia e o nosso futuro, a Cinemateca se viu ardendo em chamas.
É preciso continuar resistindo, seja ao vírus ou ao projeto genocida que anda em curso no país. É preciso continuar se reinventando. A Corte Seco – Revista de Audiovisual, que nasceu desejando se tornar impressa, se viu cada vez mais distante do seu objetivo, também vítima dos cortes que sucateiam as nossas Universidades e silenciam o pensamento crítico que busca revolucionar as nossas formas de existir. Inauguramos, então, nesta Quarta Edição, o nosso formato 100% digital nesta Era cada vez mais online e conectada em rede, vislumbrando as possibilidades que esta plataforma nos oferece.
Nesta edição, você descobrirá textos sobre o luto em Dr Who, a técnica de Stop Motion, a série Them e o terror racial, o curta caririense Candeias, a novela Fina Estampa, a velhice através do olhar chileno de Agente Duplo e as relações entre algumas escolhas cinematográficas e a pintura. Descobrirá ainda uma entrevista exclusiva com Mirna Karina e Mariana Caselli sobre o documentário caririense Nossa Floresta. A nossa equipe continua firme e forte para que o audiovisual ganhe espaço em meio ao que tem se tornado um projeto robusto de destruição do país. Continuamos resistindo a esta agenda. Continuaremos nos reinventando até que a pandemia do ódio encontre seu fim assim como a da Covid-19 parece estar finalmente encontrando.
Boa leitura a todes!
Paulo Rossi
Expediente
The end
Por que você faz cinema?
Adriana Calcanhotto
Para chatear os imbecis
Para não ser aplaudido depois de sequências, dó de peito
Para viver a beira do abismo
Para correr o risco de ser desmascarado pelo grande público
Para que conhecidos e desconhecidos se deliciem
Para que os justos e os bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo
Porque de outro jeito a vida não vale a pena
Para ver e mostrar o nunca visto, o bem e o mal, o feio e o bonito
Porque vi "simão no deserto"
Para insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como "cachorros dentro d'água" no escuro do cinema
Para ser lesado em meus direitos autorais