Mostra Universitária demonstra potencial das produções de estudantes de jornalismo, design e filosofia da UFCA
- Corte Seco
- 28 de mar.
- 4 min de leitura
Escrito por Pablo Silvino
O “ Tela Cariri: Nordeste é coisa de cinema” é um festival de cinema que tem como objetivo promover o fortalecimento do cinema nordestino por meio da exibição de obras fora do circuito comercial, de realizadores regionais. O festival realiza sua primeira edição entre os dias 19 e 30 de março, contando com mostras de longas e curtas metragens, rodadas de negócios, palestras e cursos, proporcionando uma conexão entre realizadores, produtores e entusiastas do audiovisual nacional e principalmente, nordestino e caririense.
A Mostra Universitária, exibida no dia 20 de março, no auditório Beata Maria de Araújo da Universidade Federal do Cariri (UFCA), contou com curta-metragens produzidos por estudantes de Jornalismo em disciplinas ministradas pelo professor Rodrigo Capistrano, como Documentário, Cinema Brasileiro e Cinema Nordestino. Embora sejam disciplinas essencialmente teóricas, Capistrano dá a oportunidade para que os estudantes produzam filmes como método de avaliação.
O resultado são filmes amplamente diversos em formato e temáticas, ficando difícil até traçar um fio único para falar sobre todos. Temas como mobilidade urbana (“Rotas Perdidas”, de Sâmia Costa e Ana Jáfya), batalhas de hip hop (“Salve Cristo”, de Abílio Fortunato, Carlos Gabriel e Bárbara Ívina), racismo (“Eu não quero ir para a festa”, de Carlos Gabriel), cinema brasileiro (“Cinema Novo: não quero fazer filmes entorpecentes para o povo”, de Yasmin Ariadne), narrativas experimentais (“Barata 90: em terra de mímico, palhaço é rei”, de Chico Mário e Raíssa M.F.) e até um terror trash (“Fiquei sabendo que na casa de dona Mana o chifrudo faz a festa”, de Emerson Ramon) são explorados pelos realizadores.

Essa produção diversificada demonstra o potencial de se produzir audiovisual na região sem muitos recursos (a maioria dos filmes foi gravado com celular, por exemplo) e mostra a importância de existir uma graduação em Cinema e Audiovisual no Cariri. Inclusive, durante a exibição foi distribuído o manifesto a favor da abertura desse curso na UFCA, contando com um abaixo-assinado para que a população demonstre apoio a esse movimento. Confira o manifesto na íntegra a seguir:
Abaixo-assinado - Campanha pela Criação da Graduação em Cinema e Audiovisual na UFCA
O Cariri é a síntese do Nordeste brasileiro. O antigo território da Bacia do Araripe guarda desde fósseis do período cretáceo até as memórias dos nossos povos originários em luta. Uma identidade construída na multiculturalidade das manifestações populares de artesãos, romeiros, poetas, músicos, brincantes de reisados e de bandas cabaçais.
O Cinema no Ceará também deu seus primeiros passos nesse território, tendo muitos cineastas pioneiros nascido na região e aqui realizando seus primeiros filmes. Apesar de novas gerações de realizadores terem despontado nesses últimos anos no Cariri cearense, ainda é grande a parcela dos que precisam buscar oportunidades de formação continuada na área em outros lugares. No Ceará e estados circunvizinhos, apenas Fortaleza, Recife e João Pessoa possuem esse tipo de formação em suas universidades. Em toda a Região Nordeste, apenas Cachoeira, na Bahia, abriga um curso de cinema em uma instituição federal de ensino superior situada no interior.
Essa rede de interiorização precisa ser ampliada, e acreditamos que a Universidade Federal do Ceará (UFCA), uma das mais jovens universidades federais do país, reúne as condições necessárias para abrigar um novo curso de Cinema e Audiovisual. Desde sua criação, a UFCA conta com uma Pró-reitora de Cultura como um de seus pilares, mas ainda há uma grande carência de cursos na área das artes. Atualmente, apenas a Licenciatura em Música se enquadra nesse perfil. A criação de um curso de Cinema e Audiovisual não apenas preencheria essa lacuna, mas também impulsionaria a estruturação de um futuro mestrado na área de Comunicação. Além disso, a universidade já dispõe de equipamentos e infraestrutura mínima que poderiam ser utilizados inicialmente para viabilizar a nova graduação. Há, ainda, diversos docentes atuando em outros cursos que possuem o perfil e o interesse para ministrar disciplinas nessa área. Outro ponto importante a ser destacado é a grande efervescência de produção e debates em torno do audiovisual, com muitos filmes sendo realizados dentro da universidade, além da continuidade de variadas ações de cultura e extensão.
Nesse contexto, estamos convencidos que uma licenciatura seria o melhor formato para esse novo curso: sem perder o foco na realização audiovisual, podemos ampliar nossa atuação para projetos extensionistas, trabalhar com cinema nas escolas e nas comunidades, além de pensar em formas de realização mais processuais e transversais. Além disso, um curso de licenciatura só viria a somar com outros processos formativos já existentes no Cariri, como a destacada rede cineclubista da região e os cursos livres em audiovisual, que cresceram nos últimos anos por conta do investimento em formação viabilizados por editais públicos.
Tentamos abrir um curso de Cinema e Audiovisual na UFCA em outras oportunidades. No entanto, devido às incertezas orçamentárias das universidades públicas e da alta demanda por novos cursos na instituição, esse projeto ainda não se concretizou. Acreditamos que vivenciamos um momento ímpar no setor, e que este momento não pode ser mais adiado. A criação do curso seria a culminância de reconhecimento da história e da produção artística do Cariri, por meio da ação de uma política de educação pública. Acreditamos que a produção e a reflexão que serão estimuladas e desenvolvidas na universidade vão alimentar ainda mais esse caldeirão cultural da região, unindo o legado de saberes e fazeres do Cariri às transformações e desafios do mundo contemporâneo.
Se você também acredita na importância desse curso, assine e apoie essa campanha!
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