Bacurau apresenta trama violenta, que representa o mais profundo ódio supremacista
- Corte Seco
- 30 de jun.
- 2 min de leitura
Filme dirigido por Kleber Mendonça Filho aborda descriminação, violência e corrupção no meio do sertão nordestino
Escrito por Hercules Macedo

Bacurau” é um filme brasileiro de 2019, dirigido por Kleber Mendonça Filho, o mesmo diretor de O Som ao Redor (2012). O filme se passa na cidade fictícia de Bacurau, localizada no coração do sertão pernambucano. O longa narra as dificuldades enfrentadas pelo povo nordestino, principalmente no período de estiagem, quando se vê ameaçado por um novo inimigo desconhecido.
A partir de uma abordagem profundamente autêntica, o cineasta Kleber Mendonça Filho consegue extrair o máximo de seus personagens, retratando com precisão o velho e o novo da sociedade rural pernambucana.
Plínio, personagem vivido por Wilson Rabelo, surge como uma possível liderança comunitária. Com uma postura imponente e voz suave, parece transbordar sabedoria, o que lhe permite tomar a frente de várias discussões locais. O início da obra é, de fato, construído a partir da dualidade entre cenários bonitos e esverdeados e a escassez de alimentos e produtos medicinais. O uso do silêncio reforça muito bem essa tensão, principalmente nos primeiros trinta minutos da produção, dando ao espectador uma assustadora sensação de angústia diante do que está por vir.
Logo de cara, o filme parece se tratar de mais uma narrativa pitoresca da representatividade nordestina, mas, em seguida, nos deparamos com algo bem diferente: a introdução de personagens claramente fora dos padrões locais. Seu comportamento — e, acima de tudo, suas discussões em torno de uma missão que está prestes a ser cumprida — dita o rumo que a história irá tomar. Isso é evidenciado pela fala do personagem Willy, quando diz:
“Eles não são brancos, são? Como podem ser como a gente? Nós somos brancos, vocês não são brancos.”
Daí em diante, o silêncio dá lugar ao caos, com uma sucessão de cenas de violência deliberada. Para muitos, isso pode tornar a experiência cinematográfica de Bacurau desagradável, mas sua abordagem não se resume à violência desumana. O longa também trata de temas contemporaneamente relevantes, como xenofobia, racismo e corrupção, além de destacar o verdadeiro conceito de comunidade. Aquele que se propuser a contemplar essa obra-prima do cinema nacional dificilmente ficará indiferente ao seu poder hipnoticamente avassalador.
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